Termos da Zona Costeira Amazônica

O Programa de Estudos Costeiros do Museu Goeldi lança um glossário com terminologias técnicas e populares encontradas na área litorânea do Norte do Brasil

Agência Museu Goeldi – Para compreender a dinâmica e a complexidade das áreas costeiras, os pesquisadores que se especializam neste assunto necessitam de informações de vários campos do conhecimento para entender aspectos ambientais e sociais. Foi objetivando contribuir no processo de intercâmbio de informação entre especialistas de diferentes disciplinas, e também destes com as comunidades do litoral amazônico, que o Programa de Estudos Costeiros (PEC) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) organizou o livro “Amazônia, zona costeira: termos técnicos e populares”. A obra será lançada no dia 30 de abril como parte do Seminário “Demandas e perspectivas para estudos na Costa Amazônica”.

A pesquisadora Alba Lins, da Coordenação de Botânica do Museu Goeldi, conta que o termo “restinga” originou a proposta da publicação, pois durante os estudos realizados em mangues, os pesquisadores tinham dificuldades em conceituar áreas próximas a praias. Por exemplo, no campo da botânica os especialistas levam em consideração a vegetação que ocorre em regiões fluviomarinhas (áreas de encontro entre rio e mar). Para a geologia, o assunto refere-se aos sedimentos e para pedologia refere-se aos solos. Os antropólogos, por sua vez, pensam nas sociedades e processos culturais da região, especialmente relacionados à pesca. Ao debater esta dificuldade, a botânica Alba Lins, os zoólogos Maria Luiza Videira Marceliano e Inocêncio de Sousa Gorayeb, e o geólogo Amilcar Carvalho Mendes, tendo por base o material científico produzido pelo MPEG, começaram a levantar termos técnicos considerados conflitantes.

Analisando as dificuldades semânticas, os pesquisadores perceberam também que havia um entrave para compreender as expressões populares. “A população não utiliza o termo de restinga, como foi constatado por Ivete Nascimento e Nazaré Bastos em suas pesquisas. Eles usam os termos praia e areal", aponta Alba. Logo, acharam interessante listar igualmente as terminologias populares e inseri-las na publicação, tornando-a mais acessível.

Glossário – A publicação, que é patrocinada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (FAPESPA), é fruto de um trabalho de quatro anos. Para produzir a lista de termos técnicos e populares da Costa Amazônica, os organizadores reuniram pesquisadores de diferentes áreas do Museu Goeldi: Coordenação de Ciências da Terra (CCTE), Coordenação de Ciências Humanas (CCE), Coordenação de Botânica (CBO) e Coordenação de Zoologia (CZO).

Mas, o que é um glossário? Do latim glossarĭum, o glossário é um catálogo de palavras que pertencem a um mesmo campo de estudo onde são definidas, explicadas ou comentadas. O livro “Amazônia, zona costeira: termos técnicos e populares” é um glossário expandido. A publicação foi pensada para apoiar quem deseja compreender conteúdos referentes aos estudos costeiros na Amazônia Brasileira, tem 352 páginas e divide-se em duas partes – na primeira o leitor encontrará os termos técnicos de diferentes disciplinas e, na segunda, os taxa (espécies, gêneros e famílias de seres vivos) encontrados no litoral amazônico.

“É impressionante como estão pedindo [o glossário] porque [a região] carece desse apoio científico”, observa Lins. Ressaltando que não é uma obra fechada, mas aberta para atualizações periódicas, os organizadores esperam que a publicação contribua para o enriquecimento das pesquisas desenvolvidas na região costeira da Amazônia.

Estudos Costeiros no Goeldi – As pesquisas sobre a costa amazônica se consolidaram no Museu Paraense Emílio Goeldi na década de 60, quando foi instituído o grupo de pesquisa em Antropologia da Pesca. Os principais estudos deste grupo foram desenvolvidos sob a chancela do projeto “Recursos Naturais e Antropologia das Sociedades Marítimas, Ribeirinhas e Estuarinas da Amazônia (RENAS), sob a liderança da antropóloga Lourdes Furtado, que reuniu também pesquisadores das ciências naturais.

Em 1997 o Museu Goeldi dá um passo além e cria seu Programa de Estudos Costeiros (PEC), com enfoque específico para os ecossistemas amazônicos, investigando aspectos ambientais e sociais, com o objetivo de gerar subsídios para a gestão territorial, a utilização dos recursos naturais e a formulação de políticas públicas. A missão do PEC, concatenado à missão institucional, é gerar, integrar e comunicar conhecimentos sobre sistemas naturais e a diversidade sociocultural da Amazônia Costeira e Marinha.

Para o Ministério do Meio Ambiente - MMA (2002), as zonas costeiras “são regiões de transição ecológica, e que desempenham importante função de ligação e de trocas genéticas entre os ecossistemas terrestres e marinhos, fato que as classifica como ambientes complexos, diversificados e de extrema relevância para a vida no mar”. Constituem-se em espaço de desenvolvimento que demanda uma política científica e tecnológica específica, com promoção de parcerias em torno das diferentes sustentabilidades (ambiental, social, cultural e econômica) e com o monitoramento sistemático das mudanças que ocorrem nesse ambiente altamente dinâmico.

O PEC/MPEG está associado a instituições e projetos internacionais (como a Rede ECOLAB de cooperação científica e tecnológica franco-brasileira), integrado a programas federais como o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), regionais (GERCO), tem parcerias com universidades e institutos de pesquisa (Amapá, Pará e Maranhão) e com diversos grupos de interesse e atores do desenvolvimento (entidades de classe, prefeituras, associações, ONGs, governos estadual e municipal).



Para obter mais detalhes sobre a publicação, clique aqui. Para assistir ao book trailer, clique aqui. Você também pode assistir ao vídeo no YouTube, neste link.



Texto: Victor Lopes