Resenha do artigo de Daniel Guiral, 2009, no Journal de l’IRD, 49, abril/maio 2009 ( Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. )

As espécies lenhosas que constituem os manguezais utilizam um verdadeiro arsenal de estratégias de sobrevivência para enfrentar as dificuldades extremas existentes em seu meio natural, na passagem entre o oceano e o continente.

Assim, para lutar contra a carência de oxigênio do ambiente lamoso, onde frequentemente se desenvolvem, elas fazem uso de sistemas radiculares notáveis, que permitem a penetração do ar no solo. Esta é uma estratégia importante, visto que as lamas muito finas, transportadas do continente para o mar, dificultam sobremaneira a degradação completa da matéria orgânica e a liberação dos elementos nutritivos. Para contornar esta dificuldade e assegurar o fluxo mínimo dos gases entre a atmosfera e o solo, as Rhyzophoráceas (mangal, mangue vermelho) desenvolvem suas típicas raízes-escoras, emitidas a partir dos caules e cuja parte superior fica sempre fora da água qualquer que seja a altura da maré. Outras espécies como as Avicennias (siriuba) possuem outro tipo de raízes (os pneumatóforos), que partem do tronco central (geralmente em forma de estrela) e que se desenvolvem verticalmente a partir da superfície do solo (geotropismo positivo). Esse tipo de raiz permite à planta suportar a imersão gradativa durante a maré alta e compensá-la no período de emersão em maré baixa.

Outra questão é relativa à presença de água salgada. Sabemos que os manguezais precisam, para seu desenvolvimento, tanto da água doce quanto da água salgada. Para alimentar-se em água doce em um ambiente onde o sal está sempre presente em maior ou menor concentração, as árvores desenvolvem estratégias específicas. As Rhyzophoráceas filtram impecavelmente a água pelas suas raízes, retirando o sal e deixando passar os elementos nutritivos. Quanto à Avicennia, ela se deixa invadir pelo sal, mas o expele em seguida por suas folhas dotadas de glândulas especializadas para esse fim. Esse mecanismo é fundamental para manter a concentração do sal de suas seivas em níveis compatíveis com sua integralidade física e o funcionamento de suas células.

Um último exemplo é referente às adaptações para economizar a água doce, relativamente rara e difícil de se obter do ponto de vista energético. A estratégia mais notável é a de diminuir a evapotranspiração controlando o tempo de abertura dos orifícios (estômatos) pelos quais se operam as trocas gasosas. O mecanismo é complementado pelas características particulares de suas folhas, coriáceas, muito brilhantes e, em algumas espécies, ricas em tanino, que possibilita maior resistência ao aquecimento solar e controlando, em conseqüência, o potencial da evapotranspiração.

Tradução de M.T.Prost. Fevereiro 2010